lunes, 22 de junio de 2020

IMAGEN DE IGNACIO DE AZEVEDO (em português)

IMAGEM DE INÁCIO DE AZEVEDO


  Em 1946, coincidindo com o dia de São Miguel, padroeiro de La Palma, a imprensa da ilha anunciou: "Descoberta de uma lápide na casa onde se alojaram os 40 mártires de Tazacorte". Placa de mármore que hoje é conservada no núcleo solarengo das antigas casas grandes de El Charco, também conhecido como "Hacienda de Abajo". Começa a reivindicar-se de maneira oficial por parte da câmara municipal, o clero e os vizinhos o apelativo de “Mártires de Tazacorte”. A resposta do povo tornou-se efetiva em anos posteriores com a aquisição e doação de uma imagem do beato Inácio de Azevedo.


  Sabe-se apenas de duas esculturas em madeira que são veneradas nos templos da ilha. Uma recente na ermida da Nossa Senhora de Fátima em Retamar (Los Llanos de Aridane), e a que percorre em procissão as ruas de Tazacorte cada 15 de julho. Lembre-se que em 1742, Bento XIV reconheceu solenemente o martírio e os mártires foram beatificados por Pio IX a 11 de maio de 1854.


  A escultura em madeira de Inácio de Azevedo da igreja paroquial de Tazacorte foi a primeira a ser venerada em La Palma, e hoje ocupa merecidamente um nicho no retábulo principal de São Miguel. Sabemos que foi entronizada em 1949, no que hoje é Vila e Porto, coincidindo com a erupção do vulcão San Juan e durante os festejos que "se fizeram aos beatos mártires para pedir pela extinção da erupção vulcânica". Por causa da imagem não ter chegado atempadamente para a data da festividade, a 15 de julho, a bênção e a entronização foram adiadas para 24 de julho. A escultura, da qual se desconhece a origem específica, embora suponhamos que provenha da península, foi doada pelas irmãs Orfelina e Ana Leal Rodríguez e os seus padrinhos (da imagem) Pedro e Emilia Leal Martín, sobrinhos das primeiras.


  De acordo com as referências da imprensa "a bênção teve lugar na casa dos doadores (deve ter respondido a alguma circunstância especial). Seguidamente, organizou-se a procissão da imagem venerada até ao templo, acompanhada pela banda de música e muitos fiéis. Terminada a procissão, a Santa Missa, na qual o coro paroquial interpretou magistralmente a missa a duas vozes de Perossi, dirigida pelo mestre de música Ramón Perera". Pelo menos desde março de 1949, Juan Rodríguez Cárdenas, natural de Gran Canaria, tinha sido o pároco e foi este padre que abençoou e presidiu a primeira procissão da imagem de Inácio de Azevedo desde San Borondón à igreja.


  Segundo o testemunho de Pedro Leal Martín, padrinho da imagem, as suas tias Orfelina e Ana, redigiram uma carta a quem tinha sido primeiro capelão e depois pároco de Tazacorte, Agustín Fernández de la Guerra, naquela altura residente em Cuba, para que as orientasse no desejo de fazer uma doação à paróquia. Foi esse relembrado padre que lhes disse que era necessária uma imagem do beato Inácio de Azevedo. Hoje em dia, a família Leal e os seus descendentes continuam participando na adoração e devoção aos Mártires de Tazacorte.


  Um ano antes, em 1948, há evidências da festividade e das gestões para obter uma imagem do padre Azevedo, que "num futuro próximo será abençoada e entronizada num altar ou, se possível, numa capela ainda não construída, mas que será uma realidade desde que houver esmolas suficientes". Esta capela nunca foi construída.


  Continua a notícia a dizer que, para a arrecadação de fundos, "o Sr. Cura de Tazacorte tinha aberto uma subscrição na qual tinham cabida quantas pessoas de fora da aldeia desejassem cooperar". Poucos dias antes da festividade, a 28 de junho, faleceu em Tazacorte o pároco titular de São Miguel, Julián Marco Requena, aos 73 anos de idade. Durante a sua prolongada doença, exerceu provisoriamente o sacerdócio Santiago Hernández Rodríguez. Achamos que possivelmente foi um desses dois padres que tomou a iniciativa de arrecadar fundos para adquirir a imagem de Inácio de Azevedo. O valenciano Julián Marco Requena, foi designado para a paróquia de São Miguel em 1928. Anteriormente tinha exercido o sacerdócio em Güimar e Garachico, e Santiago Hernández posteriormente serviu como pároco de Los Llanos de Aridane.


  Desconhecemos o resultado final da subscrição pública perante a notícia de 1949, já referida, da doação da imagem por Orfelina e Ana Leal Rodríguez.


  No programa festivo de 1948 (Diario de Avisos, 15 de julho de 1948), numa nota na secção "Notícias da ilha", o correspondente publicou o artigo intitulado: A próxima festa em homenagem aos "Mártires de Tazacorte". Na nossa opinião, o correspondente coloca entre aspas título como reflexo do esforço reivindicativo do qual já falámos.


  Também aponta que o antigo quadro dos Beatos Mártires sairia em procissão. A interessante resenha diz textualmente: "A festa deste ano consistirá na solene função religiosa da manhã, concertos musicais, a batalha das flores e a procissão do antigo quadro com as mencionadas relíquias, que sairão ao encontro da imagem de São Pedro, que desde domingo passado vem recebendo um fervoroso culto no bairro do Porto. "Lembre-se que São Pedro, de raízes antigas e festejos anuais em Tazacorte, recebia culto por ser o padroeiro dos pescadores, daí a sua "descida" para o bairro costeiro.


  Mais um ano rememoramos as datas da estadia e da morte violenta dos Beatos Mártires de Tazacorte. Recordemos, tal como convidou a autoridade eclesiástica no final do século XIX, "que os habitantes da ilha de La Palma se apressem para irem todos em romaria a Tazacorte no dia em que a igreja celebra a festividade destes Santos Mártires".