lunes, 22 de junio de 2020

EL RELICARIO Y LA CASULLA DE LOS MÁRTIRES (em português)

O RELICÁRIO E A CASULA DOS MÁRTIRES

  

  Sabe-se pelo inventário de 1613 que, entre a mesa do altar-mor e o pedestal sobre o qual se venera a imagem flamenga do Arcanjo São Miguel, havia uma "caixinha ou relicário onde ficam as relíquias que são guardadas na igreja...".

  

  Outras visitas eclesiásticas em 1672 e 1701 confirmaram que as relíquias da igreja de San Miguel e as que são atualmente custodiadas no santuário vizinho de Las Angustias se veneravam conjuntamente no primeiro oratório dentro de "um caixote coberto com tafetá, onde havia um cofrezinho forrado interiormente de veludo vermelho e nele as Santas Relíquias embrulhadas nuns painéis e tafetás com os seus rótulos renovados...”.


  Naquela altura, as chaves do cofrezinho e do caixote das relíquias estavam na cidade, na posse de Juan de Monteverde, descendente do primeiro proprietário das fazendas da zona. Depois, passaram para o oficial militar, Juan de Sotomayor Topete. Posteriormente, três das relíquias foram para a ermida de Las Angustias, "um pedaço de pão que sobrou do milagre de Cristo com as multidões, parte do capacete de Santo Estêvão e parte de um maxilar de Santa Apolónia" para serem custodiadas num cofrezinho pequeno, dourado e esmaltado que ainda existe dentro de um nicho envidraçado feito numa parede lateral da capela principal.


  Os escritos da visita de 1745 relatam como as relíquias foram transferidas para Santa Cruz de La Palma. Lá foram depositadas no oratório episcopal, enquanto eram construídas umas urnas "muito decentes", feitas com três chaves (uma para o vigário, outra para o padre de Los Llanos e a última "sob os cuidados do cavalheiro que costuma tê-la"). É provável que, para a primeira igreja, seja o tabernáculo que ainda é conservado no retábulo colateral da Epístola. É um sacrário de madeira pintado externamente com cenas alusivas ao martírio dos jesuítas. O bispo nivariense Rey Redondo visitou a ermida e as relíquias. Ele ordenou que o tabernáculo fosse fornecido com apenas uma chave e que esta fosse mantida num lugar seguro. Ele indicou que o referido sacrário não fosse restaurado ou reformado externamente, pois é “decorado com pinturas antigas que representam o martírio dos santos Inácio de Azevedo e os seus companheiros, cuja prevenção também se estende ao quadro que é preservado na referida igreja com o retrato dos Santos Mártires”.


  Segundo a tradição, o beato Inácio de Azevedo teria celebrado a última missa com esta casula a 15 de julho de 1570 na ermida de San Miguel Arcángel. É confecionada com damasco de seda verde e as suas medidas são 105 x 65,5 cm. É conservada no referido templo. No entanto, a primeira notícia sobre esta peça é um pouco mais tardia e data de 1895, quando o bispo Nicolás Rey Redondo, durante uma visita a Los Llanos de Aridane, deu pela existência na ermida de Tazacorte de "uma casula verde com a qual, segundo a tradição, celebrou por última vez o Santo Sacrifício da Missa o santo mártir Inácio de Azevedo”. Foi precisamente então que o prelado proibiu que qualquer padre celebrasse missa com ela. Da mesma forma, ciente do valor da peça, ordenou a construção de "uma caixa onde seja conservado esse ornamento sagrado com uma inscrição da piedosa tradição". O professor Pérez Morera informa que o próprio bispo tinha mandado recolher informações das pessoas idosas e dos padres mais antigos do país, "principalmente o presbítero José Rodríguez Pérez, que foi um dos que nos comunicou a importante notícia".


  Precisamente o mesmo investigador, no seu meticuloso estudo sobre este ornamento religioso, diz que não parece ir além do século XVII, de acordo com a documentação à qual ele teve acesso. Assim, no inventário de 1613, não figura nehuma casula de damasco verde e só há constância da existência de duas casulas velhas e muito usadas, uma de pano vermelho e roxo e outra de damasco amarelo.


  É lamentável que nenhuma das valiosas vestimentas com as quais o cavalheiro Jácome de Monteverde tinha dotado a ermida tenha chegado até nós. Em 1528, eram consideradas "as mais ricas que existem nestas ilhas". Pérez Morera detalha no seu estudo que "eram três casulas, a primeira de seda fina, a segunda de pano vermelho e roxo com as figuras do Crucificado, a Virgem e São Pedro, e a terceira de sarja roxa". Em 1577, informou-se de novas peças: “uma vestimenta de brocado falso amarelo…; uma casula de veludo preto bordada em ouro...; uma vestimenta de pano de Londres e uma vestimenta de chamelote amarelo...".


  Os vários fragmentos de damasco que se podem distinguir na confeção da peça em questão não parecem ser remendos. Talvez tenha sido feita dessa maneira originalmente para aproveitar ao máximo o tecido. Os desenhos são iguais aos do magnífico Terno de la Conquista da paróquia de El Salvador, na capital de La Palma, anteriores a 1687. Um damasco no qual pode ser visto um desenho de geometria vegetal pronunciada, com “buquês de flores, romãs e caules dispostos em faixas alternativas à direita e à esquerda”.


  O mesmo investigador também informa de uma curiosidade. O bispo García Ximénez tinha recomendado em 1673 que os ornamentos da culto divino "fossem feitos com damasco de Espanha e não da Itália, por causa da maior durabilidade". A sua conclusão é que é um damasco tecido em Toledo, Granada, Valência ou Sevilha. É preciso lembrar que Toledo foi, juntamente com Granada, o mais importante centro da indústria da seda em Espanha durante os séculos XVI e XVII.